Os tempos atuais são de medo por aqui. Nos jornais cenas de êxodos, movimentos de manada e desespero em Calais, Lampeduza e cia. Do outro lado, alimentados, e até mesmo incitando este medo, ascende uma extrema direita populista. Com um discurso fácil, xenófobo e por vezes desumano, eles espalham a ideia de que a Europa já está superlotada e não pode acolher os refugiados.
E no meio disso, as autoridades que deveriam se concentrar em acolher e integrar os 800 mil recém-chegados no ano passado na Alemanha e evitar ataques terroristas, têm que se multiplicar para conseguir apagar os incêndios causados por coquetéis molotov jogados em centros de refugiados. Nestes tempos de incertezas, o olhar calmo, a fala pausada e as posições firmes de Angela Merkel, que está há onzes anos no poder, parecem ser o que inspira mais confiança e estabilidade no cenário político alemão.
No entanto, a chanceler é apontada por grupos de extrema-direita como a causa de todos os males e a “traidora do povo alemão”, uma expressão desenterrada dos tempos sombrios do nazismo. No próximo fim de semana vai ser organizada entre os radicais de direita mais uma passeata “Merkel muss weg”, que quer dizer “Merkel tem que sair”.
Entre os organizadores estão desde grupos que poderiam ser chamados de neo-nazistas e a AfD, o partido de extrema-direita que tenta dar uma roupagem mais intelectual para a xenofobia. Eles estão com 14% das intenções de voto, de acordo com as pesquisas atuais. Ao que tudo indica, não têm chance de ganhar as eleições, mas têm feito toda a discussão política na Alemanha dar uma guinada para a direita, certas vezes para a extrema-direita.
Merkel é uma política habilidosa e tem tentado recuperar parte do apoio que perdeu durante a crise dos refugiados. Neste momento, está em uma missão diplomática chave. Enquanto muitos xenófobos gritam com ódio para os imigrantes, “volte para a África”, a chanceler resolveu exatamente ir para lá.
Nesta semana, ela visita Mali, Niger e Etiópia, o que está sendo considerado uma tentativa de analisar a questão dos refugiados de um ângulo diferente. Pretende ver de perto os locais de onde saem muitos dos imigrantes e tentar contê-los antes mesmo de cruzarem o mediterrâneo. Niger está entre os dez países mais pobres do mundo e é um dos principais pontos de encontro entre os aspirantes a migrantes e os grupos criminosos que organizam as travessias para a Europa.Esta parceria Alemanha-Africa pode ter uma influência direta nas urnas no ano que vem e dar um novo fôlego para União Europeia.
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