O
Banco Central bateu num dia e está assoprando no outro. Num dia, ele
foi duro ao afirmar que a taxa básica de juros ficará em 11% por um bom
tempo para empurrar a inflação para baixo. No outro, ele libera dinheiro
para o crédito – R$ 45 bilhões a mais estarão nas praças para
consumidores e empresas. Os detalhes técnicos estão na reportagem do G1.
“R$
45 bilhões num mercado de crédito de R$ 2,8 trilhões não é algo tão
relevante que possa causar um problema no mercado”, disse ao G1 uma alta fonte do governo.
A
reação do técnico da equipe econômica foi em resposta à comentários
ouvidos pelo Blog sobre as medidas do BC, alegando que ela contradiz a
decisão do Copom de manter os juros elevados. Mesmo que com pouco efeito
em termos de “quantidade de dinheiro disponível”, o anuncio do BC
acabou gerando mais ruído na relação dele com analistas e economistas do
mercado financeiro. Eles se perguntam o que o BC quer? Expandir
dinheiro na economia mexendo na regra do crédito ou encarecer o dinheiro
mantendo os juros em 11% ao ano?
Não
é um tema fácil por causa da complexidade das regras do mercado
financeiro. Numa tradução cuidadosa – para não ferir o conceito das
mudanças –, o que o Banco Central fez foi apertar os bancos para que
eles injetem mais dinheiro na praça.
Esses
recursos que foram “liberados” estavam depositados numa “conta” no
próprio BC, com uma remuneração fixa, mas sem risco nenhum. Com as novas
regras 50% desse dinheiro deve ser oferecido como crédito ou fica sem a
remuneração. Na linguagem do mercado financeiro, isso é chamado de
“direcionamento”, e não é considerado uma estratégia eficiente para o
funcionamento do sistema.
“Banco
dá crédito avaliando risco e não só preço. E o risco hoje está alto. O
BC está forçando uma alta do crédito só pela vontade de estimular a
economia, sem base nos fundamentos. Os bancos não estão emprestando mais
por causa da situação de baixo crescimento, inadimplência alta e
desemprego crescendo”, explicou ao G1 um dos maiores especialistas em gestão de risco do país, que preferiu não se identificar.
“Quem
está chamando de direcionamento não entendeu nada. Não tem
direcionamento nenhum”, reagiu a fonte do governo. Ele explicou que os
bancos não serão “obrigados” a dar novos financiamentos. Eles podem
fazer operações com outros bancos, comprando carteiras de crédito das
outras instituições (mais uma complexidade do sistema). “Nós estamos
dando um estímulo para que isso (as transações entre bancos) ocorra, o
que vai beneficiar os bancos menores, que terão mais recursos para dar
crédito. Isso não é novidade para o sistema”, disse o interlocutor.
“Banco
só cresce crédito se o risco for controlado e também se a perspectiva
for positiva ou estável para a economia, e claramente não é o que está
acontecendo hoje. Os bancos têm forma de cumprir as novas regras,
fazendo o mínimo necessário para diminuir o prejuízo provocado pela
falta de remuneração do BC, sem chegar ao resultado final que é expandir
efetivamente o crédito”, disse o especialista de um grande banco
consultado que atua no Brasil pelo blog.
Numa
avaliação mais radical dos efeitos das medidas, um executivo de um dos
maiores fundos de investimento do país apelidou o BC de “BNDES do B”. O
executivo aponta que o custo político criado por essa decisão do BC é
muito maior que o benefício que ela vai trazer. Ele cita que os bancos
médios vão conseguir respirar mais aliviados, mas o crédito no Brasil
não vai crescer.
“O
que eles estão fazendo é beneficiar algumas instituições que terão
algum alívio para dar crédito e penalizando quem o não fizer. O BNDES
vem fazendo exatamente isso: escolhendo os beneficiários dos empréstimos
com juros mais baixos e provocando desequilíbrio no sistema. Não
funcionou no BNDES e não vai funcionar agora”, alfinetou.
VIA:Thais Herédia
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