A
trégua mais recente com a inflação acaba de surgir no relatório Focus
publicado pelo Banco Central nesta segunda-feira (21). A previsão dos
analistas para o IPCA de 2014 teve um recuo – foi de 6,48% para 6,44%.
Apesar de ainda muito alta e num patamar arriscado, a expectativa para
inflação oficial melhorou porque a evolução dos preços de alimentos tem
surpreendido positivamente.
A
outra justificativa para a queda nas previsões é uma conta amarga a ser
paga pelo país: uma economia cada vez mais fraca. O Focus deu a
inflação menor com uma mão e tirou o crescimento com a outra, já que
agora os economistas esperam um PIB abaixo de 1% para este ano.
Olhando
sob a perspectiva da inflação, o que vemos para frente pode ser “terra à
vista” ou “miragem”. O que promete ser um alívio no índice de preços
internos vem da evolução dos preços internacionais das commodities,
principalmente das agrícolas.
“Nos
últimos 30 dias os preços de soja, algodão, milho e até do trigo,
caíram muito. A transmissão dessa queda para o preço dos produtos não
acontece de um dia para o outro, mas é mais rápido do que acontece em
outras categorias. O algodão caiu 25%; a soja em grão, 18%; o farelo de
soja, 17%; o milho caiu 13%; e o trigo teve redução de quase 10% – são
todos componentes importantes para a inflação”, disse ao G1 Arnaldo Correa da Archer Consulting, especializada em mercado de commodities.
Registrar
a queda nos preços é fácil, mas afirmar se a redução é consistente são
outros quinhentos. “Fazer previsões sobre o comportamento das
commodities é se expor ao ridículo! É um movimento cíclico e dependente
de fatores incontroláveis. Se amanhã piora o clima na Colômbia, o preço
do café vai para o espaço. Em condições normais de temperatura e
pressão, os produtos que sofreram queda tiveram uma subida violenta nos
últimos 12 meses. Portanto, é natural a acomodação dos preços”, avalia o
consultor.
Nesta
terça-feira o IBGE divulgará o IPCA-15 de Julho. As previsões já contam
com uma redução importante do índice. Para o Bradesco, por exemplo, o
indicador deve vir em 0,24%, bem menor do que os 0,47% registrados no
período anterior. Segundo relatório do banco distribuído a clientes,
essa queda virá da “acomodação nos preços de transportes, vestuários e
artigos para residência”.
Para
se atracar em terra firme, o IPCA de 2014 terá que contar com esse
esmorecimento dos preços das commodities. Enquanto as grandes economias
mundiais estiverem indo mais devagar em suas retomadas, essa tendência
pode se confirmar. Se outros preços recuarem aqui dentro, será por
responsabilidade exclusiva da queda na atividade econômica,
principalmente no consumo.
Na
quinta-feira desta semana o BC divulga a ata da última reunião do
Copom, que manteve “neste momento” os juros em 11% ao ano. Muitos
analistas interpretaram a decisão como um sinal de que os juros não só
não subiram, como podem até cair se o PIB seguir enfraquecendo. Nesse
cenário, a queda da inflação pode até ser mesmo “terra à vista”, mas com
o mar revolto e tantas viradas a bombordo e estibordo acionadas pelo
BC, vai ser difícil atracar o IPCA sem gerar danos no “casco” da
economia.
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