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terça-feira, 5 de junho de 2018

As raízes dos problemas que afligem o povo

Em épocas de crise como a que vivemos cumpre deixar de lado muitas
das idéias recebidas, particularmente as explicações que pretendem ignorar as
responsabilidades morais das elites.
Temos o dever de nos interrogar sobre as
raízes dos problemas que afligem o povo e repudiar posições doutrinárias
fundadas num reducionismo econômico.
Como ignorar que os germes da crise
atual já corroíam nosso organismo social na fase de rápido crescimento das
forças produtivas do país? Não terá sido o nosso um desses casos de mau
desenvolvimento que hoje preocupam os estudiosos da matéria? Com efeito:
como se apresenta o nosso país após um longo período de crescimento industrial
que se prolongou por quase meio século? A resposta está aí: acumulamos uma
dívida externa descomunal, enfrentamos um endividamento interno do setor
público que acarreta a desordem das finanças do Estado, enquanto metade da
população sofre de carência alimentar.

O processo de globalização interrompeu o
avanço na conquista de autonomia na tomada de decisões estratégicas. Se
submergimos na dolarizaçã, estaremos regredindo ao estatuto semi-colonial.
Com efeito, se prosseguimos no caminho que estamos trilhando desde 1994,
buscando a saída fácil do crescente endividamento externo e o do setor público
interno, o Passivo Brasil inchará em um decênio de forma a absorver a totalidade
da riqueza que acumulamos desde a proclamação da Independência. Seria
leviandade desconhecer que enveredamos por um caminho que nos conduz a um
grave impasse.

É certo que a causa imediata da crise que acabrunha o país foi o forte
desequilíbrio da balança de pagamentos para o qual concorreram fatores de
origem interna e externa. Mas, que esperar de um processo de crescimento que
derivava seu dinamismo da reprodução indiscriminada de padrões de consumo
de sociedades que já alcançaram níveis de produtividade e bem-estar muitas
vezes superiores aos nossos? Como não perceber que os elevados padrões de
consumo de nossa chamada alta classe média tem como contrapartida a
esterilização de parte substancial da poupança e aumenta a dependência externa
do esforço de investimento? As tensões estruturais que daí resultam estão na
origem das pressões inflacionárias incontroláveis. Nessas circunstâncias, o custo
da estabilidade de preços tende a ser a recessão.

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