A complexa e preocupante situação política nacional e internacional que se vive nos dias de hoje requer que dela se faça uma lúcida e desapaixonada análise por forma a encontrar as respostas mais adequadas à situação....Diversa da demagogia e manipulação usada pelas políticas fascistas, impostas por um eficaz e omnipresente aparelho de repressão, as actuais medidas surgem-nos inseridas num contexto pretensamente democrático, ou seja, fazendo parte e decorrendo do curso normal de funcionamento das instituições democráticas.
Na busca de legitimidade para aplicar tais políticas e tais medidas, o poder político invoca falsas razões democráticas, e servindo-se muita vezes dos imprescindíveis fazedores de opinião justifica-as como o «mal necessário», consequência lógica e corolário das actuais exigências de economia, logo inquestionáveis.
Outras vezes, consciente das grandes dificuldades de aceitação e prevendo a sua natural contestação social, invocam-se compromissos internacionais inalienáveis, decisões exteriores inultrapassáveis, como se delas não se tivesse feito parte, alijando deste modo qualquer responsabilidade pela decisão.
Mais recentemente uma nova e demagógica justificação foi encontrada – a da crise –, uma crise que nos é «vendida» como se resultante de um cataclismo natural e imprevisível, tentando esconder a todo o custo que ela é justamente consequência das medidas tomadas e das políticas seguidas.
E estes gravemente perigosos e ardilosos argumentos vão percorrendo mundo e de forma cada vez mais preocupante ganhando espaço um pouco por todo o lado, incluindo também, e principalmente, na Europa onde estamos inseridos.
Com eles se pretende dois objectivos diferentes: por um lado, levar as populações a aceitar pacificamente medidas gravosas altamente lesivas das mais elementares expectativas em democracia e atingir mesmo direitos duramente conquistados ao longo de décadas e juridicamente garantidos. Por outro, responsabilizar essas mesmas populações pelas decisões, já que resultantes das suas opções políticas, mais concretamente consequência da sua opção de voto.
Mas um outro e monstruosamente muito mais perverso fim é atingido – o próprio conceito de democracia. Ou seja, usando um simulacro de democracia tenta-se desacreditar a verdadeira democracia, atingi-la na sua essência, e mostrar que ela não serve nem resolve os interesses e anseios das pessoas. Usa-se a democracia para combater a democracia.
Esta escandalosa artimanha do capitalismo leva a que camadas mais incautas de população, política e ideologicamente menos apetrechadas, se sintam baralhadas, desiludidas com a democracia e tentadas a procurar outros caminhos, admitindo ilusoriamente que neles poderão encontrar as respostas e as saídas que a democracia não tem conseguido dar-lhes.
A grande exigência que nos impõe o tempo presente é a da luta pela democracia. Reabilitá-la, evitar o seu esvaziamento, assegurar-lhe o crédito das populações, assegurar o exercício dos direitos políticos ao prosseguimento e garantia dos direitos sociais, é tão importante quanto urgente.Uma verdadeira democracia é possível, necessária e urgente. Garanti-lo é obrigação e tarefa de todos
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