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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Era uma vez um reino desencantado em que o povo, cabisbaixo, não tinha voz, mal podia falar.

Quando tentava dizer, levava logo o castigo: uma porretada no lombo pra nunca mais esquecer.
Como porretada no lombo é coisa que dói, o povo só podia gemer: ‘ai’. E a vida no reino seguia, abaixo de pau e porrete, ‘ai’, gritando pra frente e a mil.
Logo o povo aprendeu que o melhor era ficar quieto, calado do que andar falando nas ruas e ser logo enjaulado.
Os generais de plantão, exército del rei de araques, lançou campanha ao povo, pra não esquecer seu lugar.
Primeiro lançaram o ‘ai-1’, mas o povo, que a vaca amarela esquecia, acabava sempre levando uns petelecos por dia.
Assim surgiu o ‘ai-2’, o 3, o 4 até chegar no último ‘ai’: o ai-5.
Eram tempos de chumbo, quem não amasse o reino que o deixasse. Muita gente sumiu. Uns foram para o estrangeiro, outros, coitados, enterrados em terrenos alheios.
Um dia, surgiu brilhante, um príncipe contagiante. Era sábio, douto, elegante.
Alguns plebeus, por maldade ou distrato, diziam que o príncipe de jeito galante – que era até bom amante – sofria de mal de fato e por isso sua voz parecia a de um sovaco.
Mas isso era coisa do sapo, um sapo barbudo e feio que só sabia gritar, não era douto, afável nem sabia inglês, e só falava ao povo de trabalho e comida.
Enquanto o sapo bradava, a corte junto com toda a nobreza pintaram o príncipe de ouro, cujo brilho a todos cegou, por um bom tempo e a alguns cega ainda.
Ao sentar-se no trono, ele fez tanta sujeira, emporcalhou a nação inteira, deixou pobres mais pobres e fez dos ricos mais ricos.
Dizem até as más línguas que naqueles tempos do príncipe, quem pagava o pato era o povo, criança grande era rara, mais certo era morrer no berço ou numa caixa de sapato.
O sapo, inconformado, ao ver o reino em frangalhos, ao ver o povo esfaimado, ao ver tanta riqueza roubada e tanta pobreza e miséria, num momento de fúria, depois de ver tanta penúria, deu três gritos pro alto: chega de tanta amargura, de tanto medo e demora é chegada a hora, por fim, de sermos feliz nessa terra.
O povo esperançoso fez de galhos secos e de palha uma coroa singela para o que sapo glorioso tivesse a força do povo e pudesse encher a panela.
“Se quando eu deixar meu reinado, e o povo puder comer três vezes ao dia, meu reinado terá valido a pena e estarei realizado”.
Para surpresa de todos, da nobreza e do operário, do banqueiro e do ferroviário, o rei sapo foi além.
Deu comida e escola, o povo não merece esmola, o povo merece respeito, trabalho e moradia e isso não é ousadia, tampouco é bondade permitir que os mais pobres também possam fazer faculdade.
E o sapo não parou. Construiu casa e edifício, fez estrada, navio, geladeira e fez o povo sorrir e ter, pela primeira vez na história, dignidade nesse país.
O reino vivia feliz, embora alguns não soubessem, pois, de uma hora pra outra, sem mais nem menos, um dia se ouviu de longe o barulho de panelas … e logo após, a voz do príncipe, aquele.
O príncipe da voz de sovaco.
Esquecessem o que escreveu, pois agora era chegada a hora de acabar com essa festa, almoço grátis não existe, povo bom é ordeiro, mesmo com panelas vazias, mesmo morrendo um pouco, um pouco por dia.
E assim…Surgiu, brilhante, um príncipe contagiante. Era sábio, douto e direito, se for direito o que é torto…

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