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terça-feira, 15 de outubro de 2019
O CORINGA É UM DIVISOR DE ÁGUAS NA HISTÓRIA DO CINEMA
Atendendo a um convite, fui sem nenhuma pretensão ao cinema assistir a "O Coringa", na certeza de que era mais um desses filmes que contam histórias paralelas a um tema principal. Aliás, achei que seria mais um blockbuster como os da interminável saga dos Vingadores, lotados de efeitos especiais dinâmicos e mirabolantes, e cheio daquelas piadinhas chatas, feitas para adolescentes colegiais mimados se inspirarem para falar mais merda nos corredores das escolas. Mas o que vi foi algo completamente diferente! Digo, completamente diferente de tudo o que eu - Uma Mulher que ama filmes e vai ao cinema - vi em toda a minha vida, e em todos os filmes que assisti até hoje! Claro, a revolução causada por filmes como "2001: Uma Odisseia do Espaço", "Tron", "Star Wars", "Indiana Jones", "Blade Runner", "Exterminador do Futuro", "Alien", e mais pilhas e pilhas entre o mero entretenimento e o mais puro drama, é sem sombra de dúvida louvável... Porém, o efeito causado pelo "Coringa" foi e continuará a ser nada menos do que devastador, ou, melhor ainda, "perturbador"! O Coringa foi muito, muito alem de um filme! Nem um pouco convencional, atraiu multidões às salas de projeção, todas acreditando piamente que assistiriam montes de piadinhas idiotas temperando um roteiro babaca e previsível, que é tudo o que elas tem ingerido copiosamente nos últimos tempos, presas a um cabresto pseudo-cultural pela sua própria mediocridade e falta de intelectualidade. Em meia hora de projeção, viu-se que a coisa não era nada do que se pensava. O filme é poderosamente tétrico, pesado, denso até não poder mais, altamente dramático, com diálogos riquíssimos, um roteiro brilhante e uma atuação digna do Oscar do ator principal (Joaquin Phoenix), que mostrou a todos o que de verdade significa a arte de atuar, uma arte tão perdida em meio à sacal costumeira computação gráfica que geralmente raia a banalidade. O filme não é um filme comum! Longe disso, parece mais uma mensagem desmedida e pessoal do escritor da história e da produção do filme. Não há efeitos especiais típicos de um filme de herói; mesmo porque é um filme de anti-herói. O fato é que, com toda a marginalidade, o desequilíbrio e a maldade do personagem-título, o público, boquiaberto e estupefato, de queixo caído e sem respirar no mais sepulcral silêncio, acaba por concordar, até se identificar um pouco com o protagonista. O "coringa" deixa de ser apenas um famoso vilão das histórias de Batman, para se tornar a voz de milhões e milhões de pessoas em todo o mundo! Ele representa enfaticamente as tantas e tantas pessoas que sofrem cruéis injustiças e tem suas vidas pisoteadas e destruídas, seja pela cegueira do Estado e seus políticos insensíveis e canalhas, ou causada pela calhordice humana do dia-à-dia, pelos traumas de abusos na infância, ou qualquer outra coisa que tenha moído impiedosamente a carne e o espírito. Na realidade a história mostra o quanto o ser humano é literalmente horrível, e que os bons sempre serão raríssimas exceções. Como lhes disse, não há efeitos especiais do outro mundo e nem muitos tiros... Mas a violência é barbara, ultrajante e chocante! Por que? Porque foi filmada de forma seca e realista, sob um roteiro totalmente dedicado a escandalizar o espectador. Este é o objetivo, que foi conseguido porque o filme foi além de um filme. Não se trata de diversão, de entretenimento, mas de uma surpreendente mensagem drástica, enfiada no estômago de uma plateia de longa data acostumada a usar o cinema como adereço das compras e da praça de alimentação dos shoppings, esfregando os dedos em seus viciosos e hipnóticos celulares.
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