Sob a alegação de que precisa de “informações oficiais” para tomar providências, Dilma Rousseff exige receber uma cópia dos depoimentos do delator Paulo Roberto Costa. Requereu os papeis à Polícia Federal. Nada feito. Reiterou o pedido ao procurador-geral da República Rodrigo Janot. Nem pensar. Anunciou que baterá à porta do gabinete do ministro Teori Zavascki, que cuida do caso no STF. Qualquer resposta diferente de um categórico indeferimento será absurda.
Como presidente da República, Dilma é parte do problema, não da solução. Como candidata à reeleição, ela é devedora de explicações, não credora de informações. Pode começar explicando à plateia por que fala em adotar agora, sob pressão, providências que não adotou antes por opção.
Ninguém imagina Dilma e Lula com os pés em cima da mesa —ela com uma taça de champanhe, ele com um charuto entre os dedos— combinando os termos da transição: “Na Petrobras, não mexa no Paulinho e nos outros diretores sem combinar com a turma do Congresso. Você sabe: a governabilidade tem seu preço.” Do mesmo modo, é difícil imaginar que a Petrobras tenha sido entregue a saqueadores sem o conhecimento de Dilma.
Embora não seja a gerentona que Lula inventara em 2010, Dilma mantém a bolsa limpa, até prova em contrário. Mas o fato é que, por seu estilo e seu discurso, não pode alegar desconhecimento e transferir responsabilidades. Ex-presidente do Conselho de Administração da Petrobras, sempre jactou-se das maravilhas do setor petrolífero. Se a estatal virou essa bomba que ameaça explodir no seu colo, Dilma só pode culpar o antecessor e a si mesma. Ou a quem colocaram ou permtiram que ocupassem as principais ficassem nas no comando.
Abalroada pelo escândalo em plena campanha eleitoral, Dilma decidiu seguir duas linhas de defesa: a linha “não sabia” e a linha “me dêem as provas que eu passo a vassoura.” Às vezes exagera no teatro. Como na entrevista em que ela se irritou ao ser indagada, na semana passada, sobre a propina de R$ 1,5 milhão que Paulo Roberto Costa teria mordido na compra da refinaria de Pasadena.
“…Sou a favor de investigar, nada colocar para debaixo do tapete”, disse Dilma. “Acho que o maior mal atual é a impunidade. Investiga-se, descobre-se o malfeito e não condena, cria a sensação de que não teve pena nenhuma. Sabe por que protege com a impunidade? Porque você não prende, não pune e só tem um jeito: tem que punir. Por isso é que se diz: tolerância zero.” Conversa mole.
Se Dilma fechasse as usinas de escândalos, haveria menos matéria-prima para investigações. Desde que a cúpula do PT foi enviada para a Papuda, a impunidade deixou de ser o maior mal. Ficou demonstrado que já é possível julgar, condenar e prender. O que atrapalha é a inclusão dos presidiários no rol dos herois do PT. E a ilimitada tolerância com o apadrinhamento de bandidos para postos de comando.
Entre os beneficiários do petrolão, Paulo Roberto Costa teria mencionado o ministro Edison Lobão. Dilma alega que não pode afastar o afilhado de José Sarney sem que lhe sejam providas as “informações oficiais”. Com uma biografia tão precária no comando da pasta de Minas e Energia e a Petrobras de ponta-cabeça, uma coisa é certa: o pedido de Dilma para ter acesso ao teor da delação, por teatral, não merece ser levado a sério.
Por Josias de Souza
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