Que conhecer os impostos e este ramo do direito não tem serventia alguma, exceto para os que com ele labuta. Demonstrarei o equívoco dos que assim pensam. Iniciarei contando uma breve história.
Francisco
é um cidadão comum, trabalhador, honesto, um homem íntegro que acorda todos os
dias sempre com um sorriso no rosto para trabalhar, mas hoje é sábado e não
trabalha. É mais um dia, como qualquer outro, e ao abrir a janela do seu quarto
uma fresta de luz penetra o pequeno cômodo que repousa. Ele olha para sua cômoda
e vê um documento com um timbre oficial, é a notificação da parcela do
IPTU (Imposto Sobre a Propriedade de Imóvel Predial Territorial
Urbano) que precisa pagar! Desespera-se momentaneamente, mas logo se
acalma e vai tomar banho. Ao ligar o chuveiro, em meio ao barulho da água caindo
no chão, Francisco lembra da Declaração do imposto de renda pessoa
física que necessita enviar para Receita Federal, não se detém muito
sobre isso, além de tudo, por ser regido por um contrato de emprego, lhe é
retido na fonte uma boa parte dos seus rendimentos pelo
empregador a título de Contribuição para o INSS. Que
maravilha!!!
Batem na porta. Francisco pensa que é sua irmã que veio fazer-lhe uma visita,
mas não era. Era o empregado da companhia concessionária de energia elétrica
estendendo-lhe a conta que deve pagar pelo consumo de energia. Francisco então
cabisbaixo agradece o funcionário e recolhe o periódico que estava à sua porta e
entra. Seus pensamentos mastigavam o seu ser enquanto lia a referida conta de
consumo de energia em razão do alto valor cobrado, e qual não é a sua surpresa
quando se deparava com a cobrança da COSIP
(Contribuição para o Custeio do serviço de Iluminação Pública)
em sua fatura, mais essa. Ele então abre o periódico, na esperança, de quem
sabe, uma notícia boa para alegrar o seu dia. Mas a manchete principal estampada
na capa dizia: Aumento da Taxa de esgoto entrará em vigor
próximo mês. Isso o deixou tão irritado que amassou o jornal e o sacodiu fora.
Insatisfeito, Francisco vai até a cozinha preparar o seu café da manhã com os
produtos que comprou no supermercado na noite passada. Ao desembrulhar os itens,
ele vê a nota fiscal que havia deixado de lado por um momento e fica espantado
como o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e
Serviços) incidente sobre os produtos que adquiriu. Mas que pouca
vergonha, pensou ele! Pelo menos, com a nova lei em vigor, vem na nota fiscal o
valor dos impostos. Perdeu até a fome com essa. Querendo um pouco de ar puro
ele decide dar uma volta, decidido pega as chaves do seu carro, mas prontamente
as joga na mesa, pois lembrou-se que não havia pago o último IPVA
(Imposto Sobre a Propriedade de Veículo Automotor), não podia correr o
risco de andar por aí irregular. Que desalento!
Caminhar era a solução. Enquanto caminhava para espairecer a cabeça Francisco
vê, há poucos metros de sua casa, um grande outdoor da prefeitura informando a
realização de uma obra pública que valorizará e muito aquela região. No letreiro
tinha uma cifra com tantos zeros que ele nem se arriscava a tentar adivinhar que
valor representava. Decidiu aproximar-se junto dos vizinhos e o comentário não
deixou de ser assustador! Daquela obra decorreria uma Contribuição de
Melhoria a ser paga à prefeitura pelos moradores que tiveram os seus
imóveis valorizados nas proximidades daquela obra. Santo Deus! Até isso, pensava
Francisco.
Correndo de lá, lembrou-se que precisava ir aos Correios e Telégrafos buscar um
pacote que semanas antes encomendou pela internet. Ao chegar lá conversou com o
atendente e lhe foi informado que o produto foi apreendido pela Receita Federal
porque não havia sido recolhido o II (Imposto de
Importação), que para receber o produto ele deveria pagar o imposto e
voltar aos correios para buscar. Que despautério!
Precisou dos serviços bancário, pois não tinha dinheiro consigo no momento. Ao
checar sua conta, a dura realidade do contribuinte, não tinha dinheiro e teve
que se socorrer do famoso cheque especial. Ao selecionar a opção de retirada do
cheque especial ficou ciente que aquela operação estava sujeita ao IOF
(Imposto Sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro), ele nem sabia
disso. Precisava do dinheiro e retirou. Pagou o imposto, pegou seu produto nos
correios e voltou para sua casa, chateado obviamente com toda essa situação.
Em casa, enfim, com um pouco de sossego ele decide assistir ao noticiário, quem
sabe um programa interessante. É o Jornal Nacional! Anima-se até que o âncora do
jornal anuncia a matéria principal: o Brasil e a alta carga
tributária, o ministro das finanças diz que a situação do Brasil está
estabilizada. Intolerante, Francisco desliga a televisão, e, então, degusta o
seu jantar pensando sobre o custo do ICMS do que come, o
ICMS da energia elétrica que está consumindo no momento e dos
custos de viver. Em um momento de aflição ele dá um grito assustador e eufórico
que dizia: Só morrendo para deixar de pagar tributos!!!
Pobre Francisco, não sabe ele que se morrer também há encargos com as
taxas da prefeitura para sepultamento, se for público o
enterro. Caso seja privado, teremos que verificar a incidência de
ICMS pelo serviço também.
Essa pequena história fictícia foi criada para atingir dois objetivos
principais: 1 – Verificar que todos nós estamos sujeitos a uma diversidade de
tributos, consoante as nossas atividades e rendimentos, que estamos diante de
uma alta carga tributária que nos assola e oprime. 2 – A complexidade do sistema
e a falta de clareza da legislação tributária brasileira, legislação que deveria
ser acessível (compreensível) ao povo mas não é, têm sido a gênese de uma
sociedade completamente alienada e porque não falar de um analfabetismo fiscal?
Um sistema em que as pessoas pagam tributos porque tem que pagar sem saber nem
mesmo o porquê pagar. Um sistema onde as regras estão postas, mas poucos são os
que as conhecem.
Quando nosso personagem figurativo Francisco, exprimiu sua insatisfação dizendo
que só morrendo para não pagar mais impostos, talvez a frase que norteava o seu
pensamento foi inspirada em outra dita por Benjamim Franklin: “Neste mundo nada
está garantido senão a morte e os impostos”. Seguindo a mesma linha de
pensamento, constatando a onipresença marcante do tributo na vida do brasileiro,
nos atrevemos a parafrasear o jurisconsulto Ulpiano ao dizer: Ubi homo ibi
societas, ubi societas ib tribuere! Há tributo em quase
tudo ao nosso redor e muito e a contrapartida do Estado é quase imperceptível. É
urgente uma reforma tributária no nosso país, bem como a conscientização da
população em relação as questões da utilização dos recursos obtidos através da
tributação. A consciência da representatividade, da escolha dos representantes
que irão gerir o dinheiro público.
Não adianta reclamar da situação atual, se não fizer nada para mudar. O poder
emana do povo, diz a nossa Constituição de 1988. E esse poder é exercido através
de representantes eleitos, através do voto! A conscientização tributária
implicará, nitidamente, em uma melhor escolha, em uma escolha mais criteriosa
dos representantes da nossa nação.
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