O programa Mais Médicos, do Governo Federal, trouxe para o
Brasil médicos estrangeiros que têm como missão fortalecer o sistema de
saúde pública,
principalmente em regiões onde a ausência de médicos é quase 100%. A
decisão causou polêmica Brasil afora. Dividiu opiniões entre a classe
médica brasileira que se sentiu invadida e desprovida de uma política
que pudesse melhorar as condições dos profissionais de saúde que atuam
no setor público.
Entre queixas e protestos, os médicos estrangeiros estão
aí para a felicidade da população desassistida. Ao importar médicos do
exterior o Governo maquiou o problema da saúde pública que continua carente de uma política justa tanto para o usuário do sistema quanto para os profissionais.
Na odontologia os problemas também são aparentes. O número
de cirurgiões dentistas da rede pública não atende a demanda e colabora
para a existência de extensas filas de espera que podem levar meses
para o usuário ser atendido. Embora o número de profissionais
odontológicos no país seja suficiente, o que ocorre é uma ausência de
política pública odontológica eficiente.
Sem condições de serem atendidos na rede pública muitos
brasileiros adquirem planos odontológicos que emergem aos montes no
país. E é aí que repousa o perigo. Nem todo plano é confiável ou oferece
uma cobertura segura. Os cirurgiões dentistas estão vivendo a ditadura
das operadoras de plano de saúde.
Por que ditadura? Explico: para manter-se, o cirurgião dentista precisa
do paciente. O paciente, por sua vez, recorre a um plano odontológico
para manter o tratamento. As operadoras cobram do cliente e repassam
parcelas irrisórias para os dentistas conveniados.
Simplesmente deixar de lado o atendimento via plano odontológico
é uma medida extrema que muitos dentistas não podem bancar. A relação
do profissional com as operadoras dos planos não é saudável. Por um
lado, os dentistas trabalham muito e ganham pouco pelo serviço prestado.
O cliente paga um valor, até acessível, de mensalidade na ilusão de ter
um tratamento de ponta. Enquanto isso, as operadoras se refestelam com o
lucro que obtêm nessa relação desigual.
Para piorar a situação, o Governo Federal pretende criar o
plano odontológico Brasildental que nada mais é do que a
institucionalização da Odontoprev – empresa privada operadora de planos
odontológicos. A Odontoprev domina cerca de 40% do mercado de planos
odontológicos. Ao contrário de assumir a responsabilidade de garantir o atendimento odontológico de qualidade aos brasileiros, o Governo vai praticamente passar a
responsabilidade a um plano de saúde, sendo que a Constituição de 1988
diz claramente, no artigo 196, que “a saúde é direito de todos e dever
do Estado”.
O Brasil continua sendo um país com graves problemas de saúde e é também o país
da miopia proposital em que se enxerga apenas o que se quer ver.
As cooperativas odontológicas são uma saída para
equacionar melhor a relação entre paciente e profissional de saúde.
Nesse sistema de cooperados, perde menos o profissional e ganha o
paciente sem que haja uma política mercadológica que vise apenas a
lucratividade em detrimento da assistência.
No dia 25 de outubro, data em que se comemora o Dia do
Dentista chamo atenção para uma reflexão sobre esta profissão. A prática
odontológica vai muito além de curar dores de dentes e prevenir o uso
precoce de próteses.
A atividade odontológica vai fundo na conscientização do
paciente sobre procedimentos saudáveis que mudam por completo a
qualidade de vida do cidadão garantindo-lhe mais saúde. Da prevenção à
estética facial passando por tratamentos reabilitadores totais ou
parciais, direcionando o crescimento e a formação óssea da face, fazendo
uma ligação entre a cavidade oral e o restante do organismo.
Afinal, saúde é uma condição básica da felicidade, e a boca é parte fundamental, pois é a porta de entrada.
(*) Cirurgiã dentista
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